Mestre Pastinha

Mestre Pastinha is one of the most famous capoeirista. He is best known for preserving capoeira in its traditional form in reaction to the development of Capoeira Regional.

Vicente Ferreira Pastinha (his birth name) was born on April 5th, 1889 to José Señor Pastinha and Eugênia Maria de Carvalho. He started learning capoeira at age 8 from an African named Benedito, who taught Pastinha the art so that he could defend himself from an older boy who was bullying him in the street.

From 1902 to 1909, Pastinha taught capoeira to his colleagues at the School of Sailor Apprentices. He stopped teaching in 1912 and spent nearly thirty years away from capoeira.

In 1941, at the request of other mestres of the era, Mestre Pastinha opened a center for the teaching and practice of traditional capoeira. His students wore black and yellow, the colors of Ypiranga, his favorite soccer team. Many of Pastinha’s students went on to become great names in capoeira angola, such as Aberrê (mestre of Canjiquinha), João Pequeno, João Grande, Gato, Bola Sete, Curió, Gildo Alfinete, and Boca Rica.

In 1966, Mestre Pastinha and his students presented capoeira angola at the First Festival of Black Arts in Senegal. Mestre Pastinha is known as the “philosopher of capoeira” because of his great wisdom about the art and about life in general. Despite his immensely important work in preserving the traditional capoeira, he came to an unfortunate end. The government took away his academy, promising to renovate it and return it to him, but the renovated space was instead given to a restaurant.

Mestre Pastinha died poor, blind, and bitter about the injustice he suffered; however, he did not regret his life as a capoeirista. Angola, mother capoeira.

 

Sorcery of slaves in the longing for freedom; its beginning has no method and its end is inconceivable to even the most knowledgeable capoeirista.

– Mestre Pastinha.

 

Source: http://capoeira-connection.com/

Students

Interview by Helina Rautavaara in 1964

 

Helina Rautavaara: Eu queria que me contasse um pouco, desde que ano começou como capoeirista ?
Mestre Pastinha: Desde 1910.
Helina Rautavaara: E em que ano fundou essa capoeira ?
Mestre Pastinha: Em 1941.
Helina Rautavaara: Por favor, me explique um pouco mais sobre o que é a capoeira. Eu já sei, mas me explique.
Mestre Pastinha: A explicação que eu tenho ? Que é da capoeira ?
Helina Rautavaara: É.
Mestre Pastinha: Sobre a origem dela ?
Helina Rautavaara: Sim, sobre a origem.
Mestre Pastinha: A origem é africana.
Helina Rautavaara: E onde você aprendeu ?
Mestre Pastinha: Aqui na Bahia.
Helina Rautavaara: Em que ano ?
Mestre Pastinha: Aos 10 anos de idade.
Helina Rautavaara: E de quem aprendeu ? E quem lhe ensinou ?
Mestre Pastinha: Um africano.
Helina Rautavaara: Como ele se chama ?
Mestre Pastinha: Se chamava Benedito.
Helina Rautavaara: Mestre de angola.
Mestre Pastinha: Angola!
Helina Rautavaara: E… Diz-se que a capoeira é uma luta, mas que agora está proibida como luta…
Mestre Pastinha: Não… Ela não está proibida como luta não. Ela está no íntimo do homem. Na hora que ele encontra um rival, ele então se manisfesta com ela em ato de luta. Agora quando estamos em ato de alegria, ela passa a ser dança.
Helina Rautavaara: Na sua academia, há quanto tempo está nesse lugar ? Aqui no Pelourinho ?
Mestre Pastinha: No Pelourinho, desde 1952.
Helina Rautavaara: O senhor quer me contar algo de sua vida, como capoeirista ? Você foi ao Rio, a São Paulo ?
Mestre Pastinha: Rio, São Paulo, Brasília, Porto Alegre…
Helina Rautavaara: E para o estrangeiro também ?
Mestre Pastinha: Ainda não. Tive uma oportunidade que perdi, que tinha que ir à Argentina. Mas porquê recebi um convite de São Paulo, então ficou revogado. Para eu vir a São Paulo, deixei de ir à Argentina.
Helina Rautavaara: Em que idade tem que aprender capoeira ?
Mestre Pastinha: Em que ano ?
Helina Rautavaara: Em que idade.
Mestre Pastinha: Não, ele aprende de qualquer idade. Em qualquer idade pode aprender.
Helina Rautavaara: Esses rapazes que estão aqui, são trabalhadores, estudantes.
Mestre Pastinha: É… São trabalhadores, operários, estudantes, funcionários, empregados no comércio. Tem de tudo.
Helina Rautavaara: E a capoeira é somente um passa-tempo.
Mestre Pastinha: É.
Helina Rautavaara: Que eu vi ali [inaudível]. A capoeira não dá vida.
Mestre Pastinha: Não.
Helina Rautavaara: Mas você, o que faz ? Você vive da academia ?
Mestre Pastinha: É.
Helina Rautavaara: E… Que modificações novas aconteceram aqui ? Como era a capoeira antes ?
Mestre Pastinha: Antes ?
Helina Rautavaara: Era o mesmo ?
Mestre Pastinha: Era a mesma coisa. Era a mesma coisa. Não tem modificação nenhuma. A modificação é a consideração de um homem para outro. Se ele tem a vocação, toma em ato de alegria ou em festa, então nós jogamos ela com mais obediência, com mais técnica. Agora, quando passar o ódio, ela modifica também, vira para luta. Em ato de alegria, é para dança. E no ato do ódio, já sabe como é: é para a violência.
Helina Rautavaara: Diga-me uma coisa. Você pessoalmente não sai mais na rua.
Mestre Pastinha: Não, não, não…
Helina Rautavaara: Mas apresenta a capoeira em Boa Viagem. Em que festas apresenta ? Em Santa Bárbara. Em, em… Conceição…
Mestre Pastinha: Em Santo Amaro, Cachoeira.
Helina Rautavaara: Boa Viagem…
Mestre Pastinha: Boa Viagem. Eu estou em todos os lugares. Onde sou convidado a ir, eu vou.
Helina Rautavaara: Sim.
Mestre Pastinha: Estamos aqui prontos para atender qualquer finalidade, seja qualquer lugar. Aonde se interessarem por ela, eu também me interesso em ir.
Helina Rautavaara: Onde você acha que a tradição de capoeira é mais puro ? Aqui mesmo ?
Mestre Pastinha: É…
Helina Rautavaara: O que pensa de Mestre Bimba ?
Mestre Pastinha: Nada tenho a responder. A finalidade é outra, e eu não posso introduzir uma finalidade… Agora nessa aqui, eu sei responder sobre ela. Agora lá sobre o outro… Sei que ele é um… A respeito do Bimba, eu não posso dar a finalidade. Porque ele tem a finalidade dele. Só quem pode declarar é ele mesmo.
Helina Rautavaara: Mas você acha que… Ele disse que representa uma tradição baiana. Você crê que é baiana ?
Mestre Pastinha: Ele é baiano também. A tradição é a mesma. De mim para ele, de ele para mim, penso que não há modificação nenhuma.
Helina Rautavaara: Você mestre representa mais uma tradição africana, angolense. Ele apresenta outra tradição mais…
Mestre Pastinha: Angola! Ele apresentou então em outra modalidade. Sobrenome de regional. Ele apresenta ela com o sobrenome de regional. Mas ele é angoleiro, ele aprendeu angola.
Helina Rautavaara: Era, era…
Mestre Pastinha: Ele é tão angoleiro quanto eu sou, aí eu não desmereço ele…
Helina Rautavaara: E os outros como Waldemar e Caiçara… São discípulos seus ?
Mestre Pastinha: Aqui para nós, eu não posso dar a finalidade do outro. Só posso dar a minha. Porquê eu só posso apresentar a minha, não posso apresentar a outra.
Helina Rautavaara: Não, não, eu não perguntei isso. Eu perguntei somente como tradição africana.
Mestre Pastinha: É a mesma, a tradição é a mesma. Agora eles tem a declaração deles diferente. Eles aprenderam com outro mestre. Eu não posso dizer nada.
Helina Rautavaara: Que planos tem para o futuro ? Para modificar, fazê-la maior ?
Mestre Pastinha: O futuro dela é esse mesmo. Da evolução do homem. Aí é somente a evolução do homem. Mas ele tem que se manifestar dentro dela mesmo. No mesmo ritmo, não pode sair fora…
Helina Rautavaara: Me diga uma coisa… Que significado tem quando eles começam cantando, e saúdam assim. Uma saudação. Tem algum sentido religioso ?
Mestre Pastinha: Ela é religiosa. Vem da mesma religião que tem o candomblé. Tem o batuque, o samba. Ela é da mesma parcela. Agora, com a modificação, um pouquinho diferente. O manifesto é um pouquinho diferente. Mas a parcela é a mesma, a religião é a mesma.
Helina Rautavaara: Alguém me disse que há uma rivalidade entre candomblé e capoeira…
Mestre Pastinha: Não há rivalidade… É unida.
Helina Rautavaara: Em algum livro eu li que há uma briga entre elas. Não há ?
Mestre Pastinha: O capoeirista é o mesmo feiticeiro. Agora eles abandonam mais uma parte por outra. Nós acompanhamos o fetichismo. Nós acompanhamos o candomblé. Não fosse assim, nós não iríamos na casa de candomblé. Não é ? Mas é da mesma parcela. Agora um que gosta mais de uma finalidade que da outra.
Helina Rautavaara: Claro, claro…
Mestre Pastinha: Um corre mais por capoeirismo, outro corre mais por fetichismo.
Helina Rautavaara: A revista que lhe prometi, vou lhe mandar da Finlândia. Porque aqui não tem… Do Rio eu podia mandar, porque no Rio tem. Podia mandar alguma fotografia de [inaudível].
Mestre Pastinha: Pode mandar. Quanto mais, melhor…